Dois terços da população mundial relatam terem experienciado a sensação de “já ter vivido certa situação antes”. Alguns estudos chegam até mesmo a mencionar casos de indivíduos que se recusam a ler jornais ou assistir à TV, por sentirem Déjà Vu constantes. Mas a ciência ainda tenta conseguir uma resposta definitiva sobre o fenômeno.
De acordo com a psicologia, a consciência tende a organizar o que é “novo” segundo percepções já conhecidas, sejam elas de lugares, pessoas, etc. De acordo com a psicanalista Chu Cavalcantti, em alguns casos, as determinações de nosso inconsciente podem privilegiar certos estímulos a outros, remetendo-nos a um “fora do tempo”, no qual nos sentimos observadores de nossa própria experiência.
“O Déjà Vu acontece quando a mente está ‘gasta’, cansada, e pode receber as percepções físicas antes de recebê-las na consciência,” afirma Cavalcantti. “Acontece um primeiro registro na área das percepções e depois de novo, na consciência. Parecem dois momentos pelo cansaço mental.”
Essa explicação se aproxima de uma variedade de estudos da neurofisiologia. O mais recente deles, publicado na Conferência Internacional de Memória do ano passado*, usou de ressonâncias magnéticas em pacientes induzidos a experiências próximas ao Déjà Vu e revelou que as áreas cerebrais mais ativadas foram, ao invés das dedicadas à memória, as partes relacionadas à tomada de decisões. Isso corrobora com a tese de que o Déjà Vu seria um mecanismo de checagem, que nosso cérebro usa para comprovar se está armazenando informações corretamente.
Na verdade, ainda não é possível definir uma resposta, sendo que a maioria dos estudos não se excluem mutuamente. “Geralmente as pesquisas identificam fatores correlatos,” é o que diz Everton de Oliveira Maraldi, pesquisador de psicologia social. “São fatores que ajudam a entender a experiência, mas que não são necessariamente sua causa.”
Talvez por isso, muitas pessoas encaram o mistério com um perspectiva de outro ângulo. Dentro de uma visão espiritualista universal, Marcello Cotrim vê o Déjà Vu como um fenômeno paranormal, provocado por sentimentos profundos de uma percepção extra-sensorial. “O Déjà Vu ocorre quando entramos em rapport, ou seja, sintonia energética, com elementos já conhecidos por nós, porém em situações que não pertencem à atual vida física,” afirma.
E segundo Cotrim, isto poderia acontecer tanto pela rememoração de outras encarnações, como por lembranças de experiências fora do corpo, as viagens astrais. “Nós vivenciamos experiências em um plano extrafísico que depois, aqui no mundo material, podem se repetir, causando a sensação de reconhecimento.”
Quanto ao seu significado, Maraldi pondera que “talvez a importância dada ao fenômeno seja menos relacionada ao evento em si, do que à atribuição do sujeito”. Seja ela psicológica, pessoal ou espiritual.
Fontes: Regina Célia Chu Cavalcanti de Carvalho, psicanalista e professora de psicologia da PUC São Paulo; Everton de Oliveira Maraldi, doutor em psicologia e pesquisador em psicologia social pela USP, e Marcello Cotrim, terapeuta holístico, metafísico, projeciólogo, espiritualista e apresentador do programa Entrevidas na Rádio Mundial FM.
*Estudo consultado: “Investigating the role of assessment method on reports of déjà vu and tip-of-the-tongue states during standard recognition tests,” publicado por Akira O’Connor, da Universidade de St. Andrews, Escócia;
Fonte: USP